
O Poema Ensina a Cair
By Raquel Marinho
Um projecto da autoria de Raquel Marinho.
"Melhor podcast de Arte e Cultura" pelo Podes 2021 - Festival de Podcasts.

O Poema Ensina a Cair Nov 25, 2023

Ana Rita Bessa
Ana Rita Bessa nasceu a 27 de agosto de 1973. É economista de formação, mãe de 3 filhos e católica. O seu percurso profissional inclui mais de 25 anos em empresas mas terá sido a passagem pelo parlamento, no grupo parlamentar do CDS a convite de Paulo Portas, que lhe deu maior visibilidade pública.
É atualmente CEO do grupo Leya, empresa onde trabalhou antes de experimentar a política, na área da educação. Disse, em entrevistas anteriores, que mais do que uma paixão a educação é uma inquietação, e disse também que quem esteve na política fica sempre com uma certa adrenalina, um interesse permanente.
Gosta de ler ficção literária e ensaio na linha da história, e disse numa outra entrevista, que o esculpir da palavra que encontra na literatura é uma coisa que às vezes até a comove.
Poemas:
- Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio, Sophia de Mello Breyner Andresen - Amar , Carlos Drummond de Andrade - Foi Deus, Alberto Janes - Ela Canta, Pobre Ceifeira, Fernando Pessoa - Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, Manuel António Pina
- Guia de conceitos básicos, Nuno Júdice
- Poema, Manoel de Barros - Procissão, António Lopes Ribeiro
- Amigo, Alexandre O’Neill

João Concha
Licenciou-se em Arquitectura, estudou artes visuais e ilustração. A prática do desenho e da pintura começou, na verdade, antes dos 10 anos, ainda na sua cidade natal, onde todas as semanas aprendia com a pintora e professora Teodolinda Pascoal. Para si, o desenho é, também, observação e respiração.
Enquanto ilustrador colaborou regularmente com fanzines, periódicos e várias editoras.
Tem exposto individual e colectivamente. Está particularmente interessado no gesto, na imperfeição e no erro.
Foi editor da Revista INÚTIL, com Ana Lacerda e Maria Quintans, publicação de escrita e imagem que teve o seu último número publicado em 2012.
Fundou depois a não (edições), projecto que em 2023 assinala os 10 anos de existência e do qual é editor. Dedica-se à publicação de poesia e procura pensar-fazer a multiplicidade ‘em aberto’ que esse campo literário significa, acolhendo o diálogo entre
formas textuais e visuais, em edições demoradas… Experimentação, cumplicidade e incerteza fazem parte da não-agenda e dos processos de trabalho, que sempre começam
e recomeçam na leitura.
POEMAS:
Fernando Pessoa, Conselho
João Guimarães Rosa, A Menina de Lá
Ana Hatherly, O Vermelho por Dentro
Ruy Belo, Oh as casas as casas as casas
Ana Cristina César, "Trilha sonora ao fundo..."
António Gancho, Epicentro
Waly Salomão, Fábrica do Poema
Manoel de Barros, poema 11 de "Biografia do Orvalho"
Adília Lopes, O Enterro
Susana Araújo, Programa de Estabilidade e Crescimento

Miguel Guilherme "cada poema é um mundo em si"
Actor e encenador começou, no entanto, por estudar antropologia, antes de experimentar a representação no Teatro na Comuna para nunca mais a deixar. Anos mais tarde, voltaria a tentar estudar História de Arte porque, acredita que “a história é a
ciência humana mais viva que existe”.
A sua relação com a poesia não é constante. Confessa, aliás, que tem muita coisa para descobrir, mas começou precocemente quando leu um livro de Bocage que havia lá em casa, pelos 12 anos. Muitos anos mais tarde viria a assumir esse personagem
na série de televisão com o mesmo, Bocage, exibida em 2006.
Poemas:
Bocage “ Meu ser evaporei na lida insana…” “ Já Bocage não sou…”
Fernando Pessoa
“ Vive, dizes no presente… “
Álvaro de Campos
“ Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra …”
Ricardo Reis Os Jogadores De Xadrez
David Mourão Ferreira
Ternura
Sofia de Mello Breyner. O Jardim
Manuel António Pina Neste preciso tempo, neste preciso lugar
Insónia
Adília Lopes A Salada Com Molho Cor-de-Rosa

Rita Taborda Duarte
Modernas, com um mestrado em Teoria da Literatura, é docente na Escola Superior de Comunicação Social.
Poeta, crítica e professora, já este ano publicou a poesia reunida
na Imprensa Nacional com um volume chamado Não Desfazendo, mas tem também um longo percurso na literatura infanto-juvenil.

Alice Sant´Anna, Inês Campos, Leonardo Gandolfi, Mar Becker, Marília Garcia, Natália Agra, Michaela Schmaedel, Salma Soria e Tarso de Melo
para conhecer melhor 9 poetas brasileiros contemporâneos: Alice Sant´Anna, Inês Campos, Leonardo Gandolfi, Mar Becker, Marília Garcia, Natália Agra, Michaela Schmaedel, Salma Soria e Tarso de Melo.
As breves entrevistas que se seguem foram realizadas no
âmbito de uma leitura conjunta de poesia brasileira e portuguesa, num espaço chamado A Casinha dos Círculos de Leitura, em São Paulo. Foi lá que nos encontrámos e nos conhecemos pessoalmente e que, antes e depois do encontro com o público, gravámos estas pequenas conversas.

Miguel Martins
publicado apareceu em 1991, num jornal da Ilha Terceira que já não existe chamado “A União”. Para essa primeira publicação contribuiu o poeta Emanuel Félix, uma das escolhas que nos traz hoje.
O primeiro livro de poesia, uma plaquete chamada “Seis Poemas para uma Morte”, chega 4 anos depois, em 1995, e, desde então, não parou de publicar e de traduzir, assim como de se envolver em muitos projectos relacionados com a poesia, mas também a música ou a escrita de letras de canções.

Juan Gabriel Vásquez
Juan Gabriel Vásquez nasceu em Bogotá, Colômbia, em 1973. Estudou Literatura na Sorbonne, em Paris e fez de Barcelona a sua casa por mais de uma década. Os seus livros estão publicados em 30 idiomas e mais de 40 países, com extraordinário êxito da crítica e do público. Venceu por duas vezes o Premio Nacional de Periodismo Simón Bolívar pelo seu trabalho jornalístico. No ano de 2012 foi-lhe atribuído em Paris o prémio Roger Caillois pelo conjunto da sua obra, prémio anteriormente consagrado a autores como Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes, Chico Buarque, Milton Hatoum e Roberto Bolaño.
Vem ao podcast "O Poema Ensina a Cair" conversar sobre o seu primeiro livro de poesia, que foi editado em Espanha em 2022, chamado Cuaderno de Septiembre".

João Taborda da Gama
João Taborda da Gama nasceu a 18 de fevereiro de 1977. Sócio fundador de uma sociedade de advogados, advogado especializado no direito das substâncias controladas, professor de direito fiscal na Universidade Católica Portuguesa, comentador político. Foi consultor do Presidente da República e Secretário de Estado da Administração Local.
É filho único e pai de 6 filhos. Crente, não sabemos se praticante, converteu-se ao catolicismo já adulto, depois de ler uma bíblia em inglês que havia em casa dos pais. Fala da experiência religiosa como uma interpelação interna permanente, uma busca em que as respostas vêm de dentro, não de fora e, no limite, podem até não vir.
Considera que a arte é o verdadeiro portal para o transcendental, porque abre portas para a beleza, e que essas portas são fundamentais para aliviar o nosso sofrimento e simultaneamente nos mostrar que as coisas podem ser melhores.

Luís Filipe Castro Mendes
Luís Filipe Castro Mendes nasceu em Idanha-a-Nova, em 1950. Devido à profissão do pai, que era juiz, passou a infância e a adolescência a saltar de lugar e por isso viveu em Idanha-a-Nova, Angra do Heroísmo, Lisboa, Ilha de S. Jorge, Redondo, Chaves e Leiria. Entre 1965 e 1967, portanto, entre os 15 e os 17 anos, foi colaborador do jornal Diário de Lisboa-Juvenil. Poderíamos pensar que estudaria jornalismo ou literatura, mas acabaria por se licenciar em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1974. A partir de 1975 deu início a uma carreira diplomática longa que, uma vez mais, o levaria a uma vida sem geografia fixa. Rio de Janeiro, Luanda, Paris, Budapeste ou Nova Deli, são alguns dos locais onde viveu e trabalhou.
Em simultâneo com a carreira diplomática publicou poesia, muitos livros, alguns reconhecidos com prémios literários. Publicou também ficção e ensaio. Já este ano saiu pela editora labirinto “Um Estranho Animal de Duas Cabeças – o Escritor Diplomata”, um livro que reúne escritos sobre poesia e poetas, assim como a apresentação da sua poesia pelo próprio autor.
Foi Ministro da Cultura de 2016 a 2018. É cronista do Diário de Notícias. Recentemente escreveu numa das crónicas “a poesia abre janelas para o que nos transcende, mas não nos desvia da atenção permanente ao mundo em que vivemos.”

Ana Vidigal
Ana Vidigal nasceu em Lisboa, em 1960. Formou-se em Pintura na Escola Superior de Belas Artes e foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian.
É conhecida a sua propensão para o arquivo de tudo o que possa ser útil para o trabalho, mas também, eventualmente, para a memória – a pessoal e familiar e a da história. Papéis, cartas, tecidos, fotografias, filmes, desenhos infantis, e mais e mais.
Expôs dezenas de vezes individual e colectivamente, e usou tanto frases suas como de outras pessoas para dar título às mostras. Damos alguns exemplos: “conheço o amor de ouvir falar”, “tenha sempre um plano b”, “A Ana, o Nuno e o meu filho Egas”, esta última uma frase recorrente da mãe.
Cresceu numa família conservadora e diz que aos 13 anos, quando se deu o 25 de Abril, percebeu que afinal poderia vir a ser aquilo que quisesse, porque a expectativa geral em relação ao papel das mulheres se alterou com a chegada da liberdade, e foi nessa altura que percebeu que não teria de contrariar os ventos para pôr em prática o seu sonho de ser pintora.
Começou a pintar cedo, e tem isso em comum com uma das avós. A leitura de poesia chegou na adolescência por causa de uma professora e de uma explicadora de Português. Também gosta de ficção e talvez a sua escritora de eleição seja Clarice Lispector, autora que conheceu aos 22 anos numa viagem de autocarro de Vitória para o Rio de Janeiro, no Brasil. Explica que com Clarice Lispector e o livro “uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” aprendeu a não perder o momento.

Nuno Costa Santos
Nuno Costa Santos nasceu em 1974 e é escritor e argumentista. Cresceu nos Açores, de onde saiu aos 18 anos, para regressar aos 45 "como um marinheiro que volta a casa", podemos dizer agora que acabámos de ler o seu mais recente livro.
Tem trabalhado em vários géneros: romance, poesia, biografia, crónica e peças de teatro. No audiovisual, fez parte da equipa de programas como “Zapping” ou “Os Contemporâneos”, participou, como argumentista, no filme "Discos Perdidos" e nos documentários biográficos "Ruy Belo, Era uma Vez", “Rui Knopfli: I am really the underground” e “J.H. Santos Barros – Fazer Versos Dói”.
A personagem melancómico, que, nas suas palavras, criou para “encontrar um conforto na abstracção urbana”, teve diversas consagrações – do livro à rádio. Assina colaborações em diferentes jornais e revistas. É um dos fundadores da produtora Alga Viva, com sede nos Açores, dirige a revista literária Grotta e o Encontro Arquipélago de Escritores.
Em 2023, lançou o livro “Como um Marinheiro eu Partirei, Uma Viagem com Jaques Brel”, que abre com o poema "You are welcome to Elsinore", de Mário Cesariny.

Rafael Gallo
Rafael Gallo nasceu em São Paulo, no Brasil, em 1981. Começou por desejar ser desenhador. Na adolescência decidiu por outro caminho e formou-se em música pela Universidade Estadual de São Paulo, fez um mestrado em meios e processos audiovisuais, e estudos na área de música para cinema. A dada altura, por volta dos 30 anos, abandonou a carreira musical para se dedicar à escrita. Esta opção acabaria por se revelar difícil de manter sem apoios e, por essa razão, para conseguir pagar as contas, viu-se obrigado a encontrar um emprego. Trabalhou no Tribunal de Justiça e descreve essa experiência como “um choque muito grande”, um estranhamento enorme”, “um trabalho burocrático sem graça”.
Podemos talvez dizer que o livro "Dor Fantasma", que acabaria por vencer o prémio José Saramago em 2022, nasce desse estranhamento e do que ele fez ao nosso convidado. A personagem principal de Dor Fantasma, Rómulo Castelo, é um pianista que a dada altura da vida vê uma das mãos amputadas na sequência de um acidente. Rafael Gallo ter-se-á visto amputado da sua natureza artística quando ficou fechado numa repartição a fazer um trabalho burocrático, mas desse estado de espírito nasceu "Dor Fantasma", e depois o reconhecimento com o Prémio Saramago, e com esta distinção uma espécie de um novo ser humano, renascido.
Autor de ficção e de conto, já arriscou também escrever poesia, mas não crê ser ainda um grande poeta.

Manel Cruz

Guilhermina Gomes
A nossa convidada de hoje é a editora Guilhermina Gomes, nome que associamos desde logo à edição do Círculo de Leitores, mas também ao catálogo da Temas e Debates. História, ensaio, literatura tradicional, ciência, política, filosofia, neurociência, psicologia ou arte, são alguns dos temas a que se vem dedicando ao longo de quase 40 anos, na esperança de que os livros que publica acabem por encontrar os seus leitores.
A condição de leitora será, nas suas palavras, a sua parte mais importante, e também uma das mais precoces. Nasceu em 1952, no Seixal, Foros de Amora, numa família de contadores de histórias, lendas e fábulas. O pai coleccionava lendas que o jornal “O Século” organizava em cadernetas, a avó e o avô contavam histórias em família. Quis o destino que padecesse de várias doenças que as crianças têm – uma ou duas por ano - e que, portanto, durante a infância ficasse de cama várias temporadas. Horas aproveitadas a ler e a escutar as histórias que lhe contavam. Disse numa entrevista “era tanta história, tanta viagem, que eu, obviamente, tinha de ficar uma grande leitora”.
No catálogo que publicou contam-se obras muito importantes da cultura portuguesa, "História de Portugal", de José Mattoso é um exemplo, mas também a obra completa de Padre António Vieira (em 30 volumes), ou os "Contos de Grimm".

Carminho
ser quando fosse grande decidiu ir estudar marketing e publicidade. Terminou o curso, percebeu que não era bem aquilo, e foi dar a volta ao mundo ao longo de 1 ano. Dessa viagem grande vem a decisão de mudar o seu destino . Estava dentro do avião de regresso a Lisboa quando decidiu que queria cantar, arriscar cantar, e foi o melhor que fez.
Estreou-se com o disco "Fado", em 2009. Passaram 14 anos e acaba de lançar o sexto chamado “Portuguesa”. Pelo caminho, vários trabalhos de consolidação de um talento português, sim, mas sem medo de abrir horizontes além-fronteiras.

Frei Bento Domingues
Aos 13 anos decidiu que o caminho seria o do serviço aos outros através da religião por causa de um padre brasileiro a viver em França que estava de férias em Portugal, e que fazia pregações cheias de parábolas sobre as pessoas do campo mas, sobretudo, cheias de alegria. Uma proposta diferente da que o nosso convidado conhecia, já que cresceu num ambiente em que predominava a religião do medo.
O medo é precisamente aquilo que Frei Bento Domingues recusa na relação de qualquer ser humano com Deus ou com a religião e será essa uma das suas bandeiras. Volto a citá-lo quando diz “eu não admito que se assuste ninguém. Para mim a religião é a alegria.”

A. M. Pires Cabral
António Manuel Pires Cabral nasceu em Chacim, Macedo de Cavaleiros, em 1941. Foi lá que fez a instrução primária, para depois frequentar em Coimbra o curso complementar dos liceus e, de seguida, a Faculdade de Letras, onde se licenciou em Filologia Germânica.
Foi professor em Macedo de Cavaleiros, Bragança, Porto, Torre de Moncorvo, mas viria a mudar-se para Vila Real depois da revolução de 1974, e foi essa a cidade onde ficou até hoje, e onde estamos hoje. Fala de Vila Real de Trás os Montes como a terra a quem deve tudo, e também, talvez a poesia que vem escrevendo, desde que publicou o primeiro livro quando tinha 33 anos.
Além do ensino, A. M. Pires Cabral, nome usado para assinar os livros, trabalhou no Pelouro da Cultura de Vila Real e no Grémio Literário da mesma cidade. A par destas atividades, escreveu e publicou muitos livros de poesia, romance, conto e teatro, e foi responsável por um dicionário de regionalismos de trás os montes e alto douro, um projeto que leva muitos anos de trabalho e que o enche de orgulho. Além dos muitos prémios literários, do seu percurso destaca-se também a organização das Jornadas Camilianas. Disse-me, numa ocasião em que conversámos há uns anos, que a poesia serve para apaziguar sem anestesiar.

Maria João
A resistência da infância aos abusos verbais dos colegas deu lugar a uma rebeldia adolescente, que a levou a ser expulsa ou convidada a sair de 5 colégios. Disse em várias entrevistas, referindo-se às dores de cabeça que provocava em casa: “minha pobre mãe”. A mesma mãe, que decidiu tentar o desporto para aquietar a filha. Primeiro natação, depois Yoga, Judo e Karaté, e só depois Aikido – que acabou por revelar-se transformador. Além de lhe trazer disciplina, valeu-lhe um cinturão negro, muito orgulho, e uma outra perspectiva sobre o que é ter regras e fazer simultaneamente conquistas. Além disso, reconhece, ajuda-a a cantar, porque trabalha o diafragma.
Nunca lhe ocorreu fazer da voz o instrumento da sua profissão. Um dia, num balneário de uma escola de natação, começou a cantar com uma colega cantora de ópera chamada Cândida, e teve noção da sua amplitude vocal. Uns anos mais tarde, aos 26 anos, entrou para a escola do Hot, e a partir daí o percurso de Maria João é o que sabemos. Muitos discos, muitos palcos em Portugal e fora, diferentes ambientes musicais, sempre a mesma liberdade e a mesma vontade de experimentar e improvisar.

Leituras: Diego Doncel
Música de João Paulo Esteves da Silva.
Livro: Em Nenhum Paraíso, tradução e introdução de Joaquim Manuel Magalhães, edição Averno

Rui Zink
Rui Zink nasceu em Lisboa, em 1961, e cresceu na zona do Martim Moniz. Foi a partir dali que começou a conhecer o mundo e disse numa entrevista que os locais são as nossas âncoras e que, portanto, uma das suas ancoras está associada ao início do país. Conhecemo-lo sobretudo como escritor, mas é muitas outras coisas: professor universitário, dramaturgo, comentador, colaborador de jornais e revistas, argumentista de BD – escreveu, de resto, a primeira tese de doutoramento sobre Banda Desenhada em Portugal. Queria ser escritor desde os 16 anos, e aos 18 escreveu o primeiro romance. Chamava-se Maionese Fatal, nunca foi publicado. Em 1986 publicou o primeiro livro, Hotel Lusitano, “uma sensação magnífica, de embriaguez". Uma das suas palavras preferidas é a palavra “atenção”, e disse em entrevistas anteriores que o seu método criativo é, precisamente, estar o mais possível atento. Mas, na opinião de Rui Zink, para escrever é preciso mais do que isso, nomeadamente ler e ler muito. Volto a citá-lo: “Um escritor que não tenha uma biblioteca dentro da cabeça, obviamente que é meio escritor apenas”. Tem muitos livros publicados, de ficção, banda desenhada, ensaio, crónica, teatro e ópera, e vários prémios literários, entre os quais o Prémio PEN Club Português de Novelística pela novela Dádiva divina, em 2004. Disse, há alguns anos, numa mesa das Correntes d´Escrita da Póvoa de Varzim, uma frase que me parece um bom pontapé de saída para esta conversa: "Brincar é a religião suprema, a forma mais séria de viver."

Tatiana Faia
Classicista por opção e, arriscaria eu dizer, também paixão, é doutorada em Literatura Grega Antiga com uma tese sobre a Ilíada de Homero. Ensinou literatura lusófona na Universidade de Cambridge e, intermitentemente, estudou teatro grego e Kavafis em Atenas.
A tradução é outra das suas ocupações – de resto, teve a gentileza de traduzir também para esta conversa. Traduziu Homero, Fílon de Alexandria, Anne Carson e Herman Melville.
É uma das editoras da revista Enfermaria 6 ao lado de João Coles, José Pedro Moreira e Victor Gonçalves, um projecto onde encontramos amiúde traduções de poesia, reflexões e textos sobre livros, e que faz também edição.
Quando pensamos na geografia de Tatiana Faia pensamos no Reino Unido, onde escolheu viver, mas também em Itália e na Grécia, países a que regressa sempre, seja fisicamente seja nas leituras.
Em 2019 venceu o Prémio Pen de Poesia com “Um Quarto em Atenas”, edição Tinta da China.
Acredita que a poesia deveria fazer parte da educação de toda a gente.

Lídia Jorge
Lídia Jorge nasceu em Junho de 1946, em Boliqueime. Cresceu numa casa onde as pessoas gostavam de ler e de contar histórias em família: ambos os exemplos terão contribuído para se tornar escritora.
Licenciou-se em Filologia Românica, um curso superior apenas possível devido a uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Nas palavras de Lídia, esta oportunidade foi tão importante que construiu a sua vida.
Estreou-se a publicar em 1980 com o romance “O Dia dos Prodígios”, já depois de regressar de África, onde passou alguns anos a leccionar. Precisou de muito tempo para assimilar esta experiência, de ver matar e morrer, da condição humana desprovida de valores fundamentais, da desinteligência.
Desde esse primeiro livro, publicou muitos outros, de romance, conto e poesia, e foi amplamente premiada em Portugal e no estrangeiro.
Acaba de lançar Misericórdia, um livro que responde “sim” a um pedido de sua mãe, que morreu em 2020 numa instituição de solidariedade social no Algarve, vítima de covid 19.

Tó Trips
Conhecemo-lo por Tó Trips, mas chama-se António Manuel Antunes. Nasceu em Lisboa, em 1966, e passou a infância entre o bairro de Benfica, em Lisboa, e a Covilhã, terra da mãe, local eleito para as férias grandes. O primeiro contacto com a guitarra foi lá, quando experimentou sacar as notas de Smoke on the Water, dos Deep Purple, de uma guitarra emprestada por um tio. Depois, pela adolescência, começou a frequentar o Rock Rendez-Vous e o Johnny Guitar. Disse numa entrevista que foi para a música para ver os outros tocar e, de facto, começa aí, nesse contacto a sua ligação às bandas. E dizemos bandas no plural porque foram várias. Os Dead Combo são o projecto mais conhecido e internacional, que criou ao lado de Pedro Gonçalves, mas também os Lulu Blind, e muitas outras.
Antes de se dedicar exclusivamente à música, trabalhou em publicidade durante 10 anos. Foi nesse contexto que aprendeu, com um director criativo finlandês, uma das frases que gosta de guardar: “criativos não são as pessoas que têm as ideias, criativos são aqueles que as fazem.”
E Tó Trips faz, mesmo que esse verbo “fazer” seja sinónimo de correr riscos. Um dia, trabalhava ainda em publicidade, leu uma entrevista do Paulo Pedro Gonçalves, dos Heróis do Mar, na qual ele dizia que as pessoas não se deviam arrepender e deviam sempre arriscar. Leu aquilo, despediu-se do emprego, largou os Lulu Blind, largou a namorada, e fez um reset para poder tornar-se freelancer e dedicar-se mais ao seu instrumento.

Pedro Cabrita Reis
Pedro Cabrita Reis nasceu em Lisboa, em 1956, cresceu em Lisboa, no bairro de Campo de Ourique, mas renasceu no Algarve, na serra que escolheu para as pausas da vida em Lisboa, e onde quer ficar quando morrer, debaixo de uma alfarrobeira e junto ao seu primeiro cão.
Artista total, com reconhecimento nacional e internacional, vê-se como um construtor – disse numa conferência que a espinha dorsal ou o território do seu trabalho está preso ao acto da construção -, e, por isso, alguém que reivindica para si a designação de homo faber, que faz, faz, faz.
E faz pintura, desenho, escultura, fotografia, instalações, num trabalho sobre a matéria que põe várias artes a dialogar em simultâneo, onde a base será sempre a curiosidade - nas suas palavras “provavelmente, a ferramenta mais poderosa do artista” -, e uma busca permanente pelo momento primordial, uma vez que acredita que “a criação de uma obra de arte é também uma necessidade intensa e profunda (…) de descobrir uma origem.”

Aldina Duarte
Foi residente durante 25 anos numa das mais reconhecidas casas de fado de Lisboa, o Sr. Vinho, sob direcção artística de Maria da Fé. Estreou-se a cantar para os outros no teatro da Comuna, em 1994, quando organizava as Noites do Fado com o também fadista e ex marido Camané, e uma letra de Manuela de Freitas chamada “Antes de Quê”, que nunca mais deixou de cantar.
Tem com a música e a literatura uma relação de amor, e explica que ambas podiam salvá-la. Diz que a profissão de fadista a obriga a estar em contacto com os seus sentimentos diariamente, e que tudo o que acontece na sua vida interfere com os seus fados, assim como tudo o que acontece nos seus fados interfere com a sua vida. Neste sentido “ser fadista é uma arte que se confunde com a vida (…) vivemos entre o abismo e o céu”.

Vasco Gato

Ricardo Ribeiro
É essa vida interior poética que vamos tentar hoje conhecer melhor, através dos poemas que nos traz e que, nalguns casos, já foram cantados por si. Mas antes de iniciarmos a conversa, podemos ainda dizer que Ricardo Ribeiro foi uma criança tímida, que os primeiros contactos com a música lhe chegaram pela voz da mãe que cantava em casa, e pelo gira-discos da tia, a pessoa que o inscreveu para cantar em público pela primeira vez numa colectividade da Ajuda de que já falámos e com quem ia para os fados quando vinha a casa nos fins de semana dos tempos do colégio interno, que tem várias alcunhas e uma delas é uma delas é o Ricarábe por causa do gosto pela cultura árabe, e que chegou a pensar seguir o caminho sacerdotal porque encontrava conforto na mensagem religiosa mas um padre muito importante na sua formação ter-lhe-á dito “A tua missão também é do divino, mas não é aqui, é na música”.

Ondjaki
A sua obra mereceu várias distinções em diversos países, o Prémio Saramago ou o Prémio de Conto da APE são 2 exemplos.
Diz que a escrita é a sua casa e que sai para outros ambientes, como as artes plásticas ou o cinema, como quem faz excursões ou incursões para voltar sempre aos livros. Escreve romance, conto e poesia, e quando, um dia, numa livraria, lhe fizeram notar essa diferença respondeu que é a mesma coisa, e passo a citá-lo: ainda estou a contar histórias quando estou a escrever poesia, estou sempre a contar histórias, mesmo em silêncio.” Escreve porque gosta de partilhar, aprender e espalhar histórias, e também porque acredita que a escrita pode ser um acto de alguma intervenção social útil.
Acaba de lançar um livro de contos que é também uma curta-metragem que escreveu e realizou. Filme e livro chamam-se "Vou mudar a cozinha", e a curta-metragem foi apresentada no festival de cinema internacional de Roterdão.

Mário Laginha
Adepto da diversidade, experimentou por várias vezes musicar poesia, e tem explorado noutras ocasiões a relação entre a literatura e a música. Um dos exemplos é o álbum "Jangada", inspirado no livro “Jangada de Pedra” de José Saramago, onde consta o tema Desquiet inspirado no Livro do Desassossego.

Inês Lourenço
Na infância, começou por decorar poemas, por exemplo de Antero de Quental ou de Bocage (era prática comum do ensino de português incentivar as crianças a decorar poesia), para depois arriscar escrever numa máquina Underwood oferecida pelo pai. Já na adolescência escreveu para jornais estudantis, mas só publicou o primeiro livro aos 35 anos. Entre poesia e microficções, é autora de quase 20 títulos. Foi responsável pela revista Hífen, uma publicação na qual colaboraram nomes incontornáveis da poesia portuguesa do Século XX. Ao longo das suas 13 edições, a revista Hífen publicou cerca de 160 poetas.
Acredita que “a poesia tem de sabotar o lugar comum”.

Salvador Sobral
Como todos sabemos tão bem, venceu o Festival da Canção e depois o da Eurovisão em 2017, mas antes de chegar a este reconhecimento e fama repentinos, lançou um disco chamado “Excuse Me” e, ainda antes, participou em concursos de talentos musicais de televisão.
Além de Maiorca em Erasmus, viveu nos Estados Unidos e em Barcelona, onde estudou Jazz durante 2 anos. Confessa-se um BEN, sigla usada para designar beto em negação, e uma pessoa, sem filtros e romântica. Por falar em romantismo, casou em 2018 com Jenna Thiam, uma actriz belga e a única mulher para quem não teve de cantar durante a fase da sedução, anterior ao namoro. Disse numa entrevista, e passo a citar: “sou casado, não sei se ela é minha mulher, ela é minha namorada”.

Fernando Cabral Martins
Entre os autores que estudou e trabalhou encontram-se nomes muito importantes das letras portuguesas e familiares a tantos de nós: Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros, Alexandre O´Neill, Cesário Verde, Luísa Neto Jorge, Mário Cesariny, entre outros.

Fernando Ribeiro
É conhecido como metaleiro-filósofo, por causa da ligação forte à filosofia e, de facto, encontra relações entre os dois universos: "há muitas relações, por exemplo, com a literatura. Houve sempre uma relação óbvia com autores como [Charles] Baudelaire e [Samuel Taylor] Coleridge – há mesmo aquele épico dos Iron Maiden, "The Rime of the Ancient Mariner". Há bandas que trabalharam William Blake, nós trabalhámos Marquês de Sade, Mário Cesariny e Fernando Pessoa. O impacto do homem que luta contra o seu destino é um tema muito caro ao "heavy metal", pelo menos àquele de que eu gosto."
Não é por acaso que cita poetas quando fala da música. Além de uma declarada relação com a história - e especificamente a história de Portugal que encontramos, por exemplo, no álbum 1755 -, os Moonspell trabalham as palavras dos poetas É disso exemplo a canção Opium, inspirada em Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, mas há muitos outros exemplos onde constam nomes como Mário Cesariny, José Luís Peixoto ou Miguel Torga.
Vive em Alcobaça, com Sónia Tavares, vocalista dos The Gift, de quem tem um filho chamado Fausto.

Daniel Sampaio
Aos 16 anos, a família, que também integrava a mãe Fernanda Bensaúde Branco e o irmão Jorge Sampaio (que viria a ser Presidente da República), muda-se para Campolide, em Lisboa. Por essa altura, e já no Liceu Pedro Nunes, o nosso convidado, que era existencialista e lia em francês Sartre e Camus, teve de escolher que área queria estudar. Ponderou Letras. Foi a filosofia que o levou à psiquiatria.
A longa carreira na saúde mental teve início em 1964, quando fez 18 anos, e foi estudar Medicina para o Hospital de Santa Maria, onde viria a formar-se pela Universidade de Lisboa em 1970. O doutoramento na especialidade de psiquiatria veio em 1986.
Publicou dezenas de livros, sobretudo sobre a adolescência e os seus problemas. E recebeu duas condecorações, dos Presidentes da República Aníbal cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa.
Já este ano, integrou a Comissão para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa.
Casado com Maria José Cabeçadas Ataíde Ferreira desde 1970, tem 3 filhos e 7 netos. Disse numa entrevista que ter construído uma família coesa com 3 gerações é a sua maior conquista.
Gosta de gatos - teve um gato chamado Jimmy, que o acompanhou desde bebé até aos seus 18 anos –, de ouvir música (o compositor favorito é Mozart), de ver futebol, e de ler.
O maior medo de Daniel Sampaio é o medo da morte, e disse numa outra entrevista que gostaria de morrer a dormir. A pessoa que mais admira é Barack Obama, na ficção é D. Quixote.
Quando lhe perguntaram se sabia um verso de cor citou Camões e o poema que começa com o verso "Sete anos de pastor Jacob servia Labão pai de Raquel serrana bela".

Catarina Furtado
Filha de pai jornalista e de mãe professora de ensino especial - a mãe Helena, que a educou, conta "a não desistir de ninguém" –, tinha 9 anos quando pediu para fazer voluntariado, e terá nascido aí uma das sementes para se tornar uma mulher e cidadã activa no combate à discriminação, ao preconceito, e à falta de empatia para com a diferença.
Esta dedicação ao outro nasce, então, ainda na infância, e mantém-se até aos dias de hoje, numa atitude perante a vida que ganhou corpo e forma não apenas como Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População, mas também, e de forma consolidada, através da "Corações com Coroa", a sua Associação nascida há 10 anos onde o objetivo, sempre incompleto e sempre necessário, é o de apoiar, informar e capacitar raparigas e mulheres, promover a igualdade de género e os direitos humanos. Para termos uma noção da importância deste trabalho, ao longo dos 10 anos de actividade, a "Corações com Coroa" atendeu mais de 5 mil mulheres, ajudou directamente mais de 500, e deu bolsas a 34.
Apresentadora de televisão, atriz de cinema e de teatro, letrista, a par dos programas de entretenimento como apresentadora, é coautora de um programa de televisão onde, uma vez mais, dá voz aos que mais precisam de ajuda. Chama-se "Príncipes do Nada" e promove a cidadania e os direitos humanos.

Richard Zenith (Pessoa - Uma Biografia)
É escritor, tradutor, investigador, e um dos mais destacados especialistas em Fernando Pessoa, em Portugal e no mundo. Organizador do “Livro do Desassossego” e de muitas outras obras de Pessoa, foi um dos comissários da exposição “Fernando Pessoa: Plural como o Universo”, que percorreu as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa.
Traduziu Fernando Pessoa para inglês, assim como outros autores portugueses como Luís de Camões, Sophia de Mello Breyner Andresen, Antero de Quental ou Carlos Drummond de Andrade. Também traduziu para inglês autores contemporâneos. Tem cidadania portuguesa desde 2007, e em 2012 foi galardoado com o Prémio Pessoa.
Foi inicialmente em língua inglesa que Zenith escreveu a impressionante biografia que acaba de ser publicada em português “Pessoa, Uma Biografia”. Um trabalho de mais de mil páginas e de mais de 12 anos de investigação, onde ficamos a conhecer como ainda não tinha sido possível o poeta para quem, nas palavras de Zenith “a vida essencial teve lugar na imaginação” e que “transportava o exílio consigo próprio”.
Fernando Pessoa nasceu a 13 de junho de 1888, o que significa que faria hoje, 13 de junho de 2022, 134 anos. É então uma celebração da sua vida o que nos propomos fazer com o seu segundo biógrafo em edições portuguesas (o primeiro foi João Gaspar Simões, em 1950). Pedimos a Richard Zenith para nos ajudar com textos e poemas que ajudem a contar a vida deste homem que foi muitos e que nos exortou, de certa maneira, a fazer o mesmo quando escreveu “sê plural como o universo”.

Nara Vidal - "EVA"
Acaba de lançar o livro "EVA", pela editora Todavia, também disponível em Portugal. A EVA, personagem feminina deste livro, já chega ao mundo carregada de violência, culpa e abandono. Esta é uma história de violência sobre as mulheres nas suas mais variadas formas, que tem como epígrafe um poema de André Tecedeiro, poeta português contemporâneo.
Créditos da fotografia da autora: Bruna Casotti

Pedro Mexia
Começou a escrever nas páginas do extinto DN Jovem. Passou pelo Diário de Notícias e pelo Público, foi subdirector e director interino da Cinemateca. Hoje é assessor para a área da cultura do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mantém uma colaboração regular com o Expresso, onde também assina com Inês Meneses o programa PBX. Na SIC, é um dos comentadores daquele programa cujo nome não se pode nomear.
Ao longo dos tempos, acumulou registos e palcos diferentes: da crítica ao ensaio, do diário à poesia, da blogosfera aos jornais em papel ou aos livros impressos. Se quisermos resumir, o que é difícil, podemos falar de Pedro Mexia como crítico literário, editor, tradutor, cronista, dramaturgo, argumentista, comentador ou poeta. Deixamos o epíteto de poeta para o final de propósito, porque o nosso convidado já disse em várias entrevistas que não usa a palavra poeta em causa própria, apesar de, lembramos nós, ter vários livros de poesia publicados. Com a palavra “escritor” também tem algumas reservas, tanto que, disse numa entrevista recente que deve ser o único português que não tem ideias para um romance. Numa outra entrevista, mais antiga, explicou melhor esta ideia: no fundo, tem dificuldades em criar a partir do nada.
Sobre a função da poesia, também a que lê – porque anda sempre com livros de poesia por perto – diz que os poemas podem nestes tempos o que sempre puderam em tempos piores do que estes: ser uma companhia, até uma esperança. Mas não acredita muito na ideia de a poesia prestar serviço a causas.

Simone de Oliveira
Simone de Oliveira nasceu a 11 de Fevereiro de 1938 em Lisboa e, por vontade da mãe, ter-se-ia chamado Maria de Lurdes porque este dia assinala o dia da Nossa Senhora de Lurdes. As cantigas, como gosta de lhes chamar, apareceram na sua vida como uma espécie de ponto de fuga para um problema pessoal que a afundou psicologicamente: um casamento de onde fugiu porque o marido lhe batia. Disse numa entrevista que "cantar foi a forma de ultrapassar essa fase", e que gostaria que não lhe tivesse acontecido aquilo tudo, mas que hoje recorda esses tempos como se tivesse sido outra pessoa que os viveu.
Ainda bem que começou a cantar, não apenas porque saiu do lugar triste onde se encontrava, mas também porque se tornou uma das nossas grandes intérpretes, uma mulher para quem tantos poetas escreveram canções que ficarão na história da música portuguesa, como a Desfolhada, de José Carlos Ary dos Santos, com que venceu o Festival RTP da Canção em 1969, e o verso polémico “quem faz um filho fá-lo por gosto” que abanou o país em plena ditadura.
Lembra-se bem desses tempos do Estado Novo e do que era ser mulher nesse contexto, tendo atitudes e posturas comummente atribuídas apenas aos homens. Também se lembra da segunda guerra mundial e das senhas de racionamento de comida. Tem ascendência belga, espanhola e são tomense, e diz que tem a impressão de haver alguma negritude no seu sangue e alma.
Nunca pediu um poema aos poetas, mas o que é facto é que lhos deram. David Mourão Ferreira e Eugénio de Andrade, são apenas dois exemplos. Já vamos saber se estão entre os escolhidos para a conversa de hoje.

Tiago Bettencourt
Apesar do sucesso e reconhecimento do público, cultiva a reserva da privacidade. Disse, aliás, numa entrevista "espero que a minha música não diga nada sobre mim, porque o importante não sou eu. (…) O importante é a música deixar de ser nossa e passar a ser das pessoas." A música de Tiago Bettencourt será, de facto, das muitas pessoas que o seguem e admiram, algumas delas talvez ainda mais próximas agora, depois de na pandemia ter recuperado um projecto antigo chamado Tiago na Toca e de ter feito regularmente directos na rede social Instagram para onde também cantou temas de outros músicos. Foi precisamente na pandemia que confirmou a ideia de que a cultura é fundamental, nas suas palavras, para a sanidade mental de cada um de nós e da identidade de um país. E por falar em cultura, além de música, Tiago Bettencourt gosta de exposições, de ler, também poesia. O tal projecto que recuperou em 2020 para os directos do Instagram chamado Tiago na Toca, nasce de um outro projecto antigo, de 2011, que é um disco/livro chamado Tiago na Toca e os Poetas onde, precisamente, musicou poemas de poetas portugueses.
Apesar de preferir que se fale menos dele e mais do seu trabalho, vamos conseguindo conhecê-lo um bocadinho melhor através das várias entrevistas que vem dando. Ficamos a saber, por exemplo, que convidaria Tom Waits para um jantar a dois, e que é de Tom Waits uma das canções que gostaria de ter escrito: chama-se I Want You.

Reconstituição Portuguesa - Um livro que transforma um símbolo do fascismo em poemas de liberdade
Participam neste exercício, que será lançado no dia em que se celebram 48 anos do 25 de Abril, Ana Moreira, André Tecedeiro, António Jorge Gonçalves, Bernardo Abreu, Caró Lago, DeBrito, DJ Huba, Eduardo Tavares, Fabian Gloeden, Filipa Pinto, Filipe Homem Fonseca, Gilson Barreto (Dela Mantra), Gisela Casimiro, João Silveira, Jorge Barrote, Jorgette Dumby, José Anjos, Li Alves, Lila Tiago, Lucerna do Moco, Luís Perdigão, Maikon Nery, Marcelo Dalbosco, Maria Giulia Pinheiro, Marina Ferraz, Marmota Vs Milky, Miguel Antunes, Nilson Muniz, Nuno Piteira, Paola D`Agostino, Rita Capucho, Rita Taborda Duarte, Sérgio Coutinho, Viton Araujo.
Entrevista de Raquel Marinho.

Luís Osório
Jornalista, encenador, escritor, autor de teatro, director de projectos jornalísticos na imprensa escrita e rádio, autor de programas de televisão, rádio e de um documentário, comunicador, comunicador político, contador de histórias, admirador confesso de pessoas e da liberdade, Luís Osório, nasceu a 15 de Setembro de 1951.
Vamos hoje conhecê-lo melhor através das escolhas poéticas que selecionou para partilhar connosco, mas podemos todos, de há uns tempos para cá, acompanhar o que vai pensando sobre o país e o mundo através dos textos que partilha no Facebook. Uma espécie de diário em tom de crónica transversal sobre a atualidade, a que chama "Postal do Dia", mas onde também cabem outras reflexões, e até listas: estamos aqui para falar de poemas, mas se quiser saber quais são as músicas da vida de Luís Osório, ele conta, lá no Facebook.
Disse em várias entrevistas que nunca foi um jornalista puro mas também admitiu numa entrevista que em algum momento pode acontecer fundar um jornal, necessariamente de esquerda. Já vamos saber se essa hipótese continua em cima da mesa e porquê.
Sobre a infância, recorda aquilo que pode ser a construção de uma infância feliz, onde a sua fotografia era a única ao lado da cama do quarto do pai, facto que lhe deu, silenciosa mas firmemente, a convicção de ser a pessoa mais importante da vida de José Manuel Osório. Este pai, que foi figura pública por ter assumido a doença da Sida numa altura em que mal de falava dela, e que Luís Osório entrevistou para a televisão pública porque, e passo a citar "queria dizer ao mundo "eu sou filho deste homem”".
Tem 4 filhos, 3 rapazes e uma rapariga, e diz que são eles que asseguram a sua desmultiplicação por caminhos que já não lhe pertencem. Por falar em filhos, acredita que amar é sempre para sempre.

Maria José Morgado
Acabou por desencantar-se com a política e concorrer para o Ministério Público. Entrou com a melhor classificação.
São conhecidos os méritos na sua carreira pública de luta contra a corrupção. De resto, recentemente foi duplamente reconhecida pelo Prémio Tágides nas categorias "Iniciativa Política" e "Investigação", pelo seu papel ativo no combate contra a corrupção. Dedicou estas distinções à sociedade civil anónima, sofredora, combativa" que quer "lutar pela igualdade com critérios de ética e transparência".
Esta preocupação social acompanha Maria José Morgado desde cedo, e não parece ter vindo a desvanecer-se com o tempo. Pelo contrário. Neste momento está jubilada das funções no Ministério Público, mas, recentemente, afirmou numa entrevista que “a luta contra a corrupção é um pilar de um estado de direito”.

Correntes D`Escritas
O Poema Ensina a Cair esteve na Póvoa de Varzim durante uma parte do Festival Literário, e conversou com autores e editores. A poesia foi o ponto de partida mas as entrevistas, por vezes, seguiram outros trilhos.
Isaque Ferreira, Afonso Cruz, Yara Nakahanda Monteiro, Manuel Vilas, José Luís Peixoto, Manuel Halpern, Inês Lourenço, António Amaral Tavares, Filipa Leal, Elena Medel e Luís Carmelo.
Autoria de Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva.

Joel Neto
Foi jornalista, repórter, editor, e chefe de redacção em vários jornais e revistas, mas em 2012 regressou à ilha natal, ao lugar de Dois Caminhos na freguesia de Terra Chã, para se dedicar à literatura. A ideia era ficar 4 ou 5 anos, mas não saiu mais. Se olharmos para os livros publicados desde então assim como o reconhecimento que a crítica lhes vem dando, podemos dizer que a aposta foi bem-sucedida.
Esta propensão para a escrita materializou-se, então, nos livros publicados, mas já o acompanha desde cedo. Quando chegou ao jornal Record, com apenas 21 anos, levou para a mesa de trabalho da redacção o dicionário de sinónimos, gesto que levou o editor do jornal a comentar “lá me saiu mais um príncipe da escrita”. Príncipe da Escrita, explicou Joel Neto numa crónica publicada no Diário de Notícias "era como alguns jornalistas da velha guarda chamavam, não aos tipos que sabiam escrever, mas aos que tinham a mania que sabiam escrever. Ali ninguém sabia escrever: quando muito, tinha a mania.”
Diz que um escritor é um solitário e, talvez por isso, tenha encontrado o abrigo certo para a escrita no lugar da Ilha Terceira onde escolheu viver.
Há a natureza, ali no jardim de casa e em tantos outros caminhos da Ilha, os animais do campo e os domésticos (Joel Neto tem 2 cães), os vizinhos “de modos simples e vocação filosófica”, a expressão é sua, e ainda, outra expressão sua: a “rotina dos silêncios”.

Leituras: Raymond Carver
Leitura de um poema de Raymond Carver por Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva.
Livro: Trocando Dólares por Cêntimos (Alguma Poesia Norte-Americana), versões de Luís Filipe Parrado, edição Contracapa

Leituras: Alejandra Pizarnik
Leitura de um poema de Alejandra Pizarnik por Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva.
Livro: Alejandra Pizarnik, Antologia Poética, tradução de Fernando Pinto do Amaral, edição Tinta da China

Leituras: António José Fernandes
Leitura de um poema de António José Fernandes por Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva.
Livro: Ainda Não é Tarde e Outros Poemas, edição Medula

Leituras: Luís Filipe Parrado
Leitura de um poema de Luís Filipe Parrado por Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteve da Silva.
Livro: Casa, edição Do Lado Esquerdo

Leituras: Patrizia Cavalli
Leitura de um poema de Patrizia Cavalli por Raquel Marinho. Música de João Paulo Esteves da Silva.
Livro: Um Pouco do Meu Sangue (Antologia de Poesia Italiana), selecção e tradução de João Coles, edição Contracapa